Artistas
Marroquinos
de Essaouira
Artistas
Aborígenes
Australianos
Coleção da Fundação
Yannick e Ben Jakober
insiders
outsiders?
Mai 3 — Out 26
2025
Artistas Australianos Aborígenes e Artistas de Essaouira, Marrocos, na Coleção da Fundação Yannick e Ben Jakober
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Ben Jakober e Yannick Vu trabalham juntos como artistas desde o início da década de 1990. Também são conhecidos como colecionadores de arte, tendo direcionado a sua atenção para muitos campos diferentes. Sa Bassa Blanca, o nome da sua magnífica casa, desenhada por Hassan Fathy no norte de Maiorca, é talvez a sua obra-prima mais marcante, tendo-se tornado uma espécie de destino de peregrinação. Aí, pode-se apreciar o seu trabalho e as suas coleções, quer no interior da casa, quer em espaços adjacentes semelhantes a museus e também espalhados por um enorme parque de esculturas.

Insiders/Outsiders?, a exposição agora apresentada no Palácio Cadaval, reúne cerca de trinta obras de um grupo de artistas marroquinos pertencentes à chamada “L’École de Essaouira”, colocando-as em diálogo com outra série de obras, também cerca de trinta, de vários artistas aborígenes australianos. Todas as obras expostas pertencem à coleção da Fundação Yannick e Ben Jakober.

A “L’École de Essaouira” tem origem no trabalho do comerciante de arte dinamarquês Frederic Damgaard, que se mudou para esta cidade na costa atlântica de Marrocos, no início da década de 1980. Aí conheceu Boujema Lakhdar, o primeiro artista com quem trabalhou, e que depressa apresentou Damgaard a alguns dos seus amigos. Eram pescadores, carpinteiros ou comerciantes, que viviam na cidade ou nos seus arredores e pintavam nos seus tempos livres. Damgaard teve rapidamente sucesso ao incentivá-los, e desde 2011 que passa os invernos em Marraquexe, começando a reunir artistas pertencentes a este grupo.

Por outro lado, a origem da arte aborígene australiana remonta a 1971, quando Geoffrey Bardon, um professor, encorajou alguns artistas australianos a pintar em tela ou em tábuas. A sua ideia revelou-se extremamente bem-sucedida. A cultura aborígene tem mais de 60.000 anos, um período incrivelmente longo durante o qual pintavam nos seus corpos, em pedaços de casca de árvores e em rochas. O uso de tela representou um momento transformador e, atualmente, existem milhares de artistas australianos em atividade e centenas de Centros Comunitários de Arte onde podem expor o seu trabalho.

Arnaud Serval, amigo de infância do filho de Yannick e Ben, mudou-se para a Austrália no início da década de 1980, onde começou a colecionar e a comercializar arte aborígene. Ben e Yannick tornaram-se seus clientes e, em pouco tempo, passaram a possuir obras de alguns dos artistas mais reconhecidos deste movimento.

Os visitantes de Sa Bassa Blanca tiveram a oportunidade de ver obras destes dois grupos de artistas expostas em conjunto, mas até agora nunca houve uma exposição que abordasse diretamente esta ideia, embora existam conexões evidentes. Para começar, ambos os movimentos foram impulsionados por influências externas. Ambos os movimentos ocorreram, mais ou menos, na mesma época e resultam de iniciativas que podem ser descritas como ativismo social. Pode também afirmar-se que existem algumas relações formais entre a arte dos dois grupos, como a construção de espaços pictóricos densamente estratificados e pulsantes, o uso de cores intensas e pinceladas expressivas. Em ambos os casos, a paisagem circundante também desempenha um papel crucial, sendo transformada em imagens complexas que expressam emoções interiores em vez de uma simples representação objetiva da realidade.

– Enrique Juncosa, Curador da Exposição
Abdelghani Ben Ali
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Nascido em 1966, Abdelghani Ben Ali, também conhecido pelo seu pseudónimo artístico Abdelghani Didouh, é um pintor que vive e trabalha em Essaouira, Marrocos. A sua jornada criativa começou em meados dos anos 2000, num modesto estúdio que construiu com materiais reciclados no distrito industrial da sua cidade. O nome “Didouh” é uma homenagem ao seu pai, Ali, que também era pintor. Inspirado pelo estilo do pai, Ben Ali seguiu inicialmente os seus passos, mas rapidamente desenvolveu uma voz artística própria e distinta.

Antigo pescador, Abdelghani Ben Ali canaliza os desafios e traumas da sua vida para a sua arte, criando obras impregnadas de uma melancolia serena e uma profunda sensibilidade. As suas pinturas refletem frequentemente um espírito introspetivo e atormentado, mas possuem uma beleza inquietante que atrai o espectador para o seu mundo.

Dotado de um talento narrativo, Ben Ali usa a sua arte para explorar narrativas que entrelaçam experiências pessoais com temas enraizados na sua herança africana. As suas composições apresentam figuras fantasmagóricas e amorfas que parecem flutuar em espaços vastos e indefinidos. Estas formas espectrais evocam memórias e sonhos, misturando o intangível com o profundamente emocional.

Ao contrário de muitos artistas de Essaouira, a linguagem visual de Ben Ali é marcadamente minimalista e pura. Prefere enquadramentos intensos e uma paleta contida, embora o seu uso da cor continue a ser vívido e impactante. O seu trabalho alcança um equilíbrio delicado entre simplicidade e complexidade emocional, convidando os espectadores a mergulharem profundamente nas histórias e sentimentos que se encontram nas suas telas.

“Dou continuidade ao trabalho do meu pai”, reflete Ben Ali. “Os fantasmas emergem nas minhas pinturas pouco a pouco, como fragmentos do sonho de uma criança.”

As suas criações evocativas foram apresentadas em várias exposições, tanto individuais como coletivas. Entre os seus feitos mais notáveis está a apresentação da sua obra na Pamela Irving Gallery, em Melbourne, Austrália, em 2016, consolidando ainda mais a sua reputação como um artista de profunda carga emocional e cultural.

Abdelghani Htihet
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Nascido em 1945 na aldeia de Chiadma, perto de Essaouira, Marrocos, Abdelghani Htihet foi um pintor autodidata que combinou harmoniosamente a sua vida de pescador com a sua vocação artística. Figura de destaque entre os “Artistas Singulares de Essaouira”, Htihet deixou uma marca indelével na arte marroquina antes de falecer em 2004, após uma longa doença.

Profundamente ligado ao mar, o trabalho de Htihet reflete os ritmos da vida oceânica e as memórias vívidas dos seus dias de pesca. A cor azul, evocando a vastidão do mar e os mistérios que se escondem sob a sua superfície, é um tema recorrente nas suas pinturas. As suas criações convidam o espectador a imergir num universo onírico, onde fragmentos do quotidiano se transformam em visões de imaginação sem limites.

O estilo artístico de Htihet é dinâmico e sem restrições, caracterizado pela ausência de narrativas lineares. Em vez disso, as suas obras surgem como expressões vibrantes de um mundo interior intenso, moldado pela influência das tradições culturais únicas de Essaouira. Conhecido por pintar em estados de transe criativo, Htihet, tal como muitos artistas de Essaouira, infundiu as suas obras com elementos de significado espiritual e mítico. Estes transes eram frequentemente inspirados por rituais e crenças locais, resultando em composições que ecoam a energia das cerimónias de vodu e o misticismo de figuras lendárias.

As suas pinturas estão repletas de formas humanas e animais sobrepostas, símbolos enigmáticos e rostos expressivos. Estes elementos, dispostos em padrões rítmicos e repetitivos, evocam uma densidade arquitetónica que, paradoxalmente, parece infinita. O uso vibrante da cor e a sobreposição de imagens criam uma experiência visual que é tão complexa quanto fascinante.

Ao longo da sua carreira, Abdelghani Htihet expôs o seu trabalho em diversas instituições culturais, conquistando reconhecimento pela sua capacidade única de fundir experiência pessoal, tradições comunitárias e uma imaginação sem limites. O seu legado perdura como um testemunho do espírito singular da arte de Essaouira e dos mundos oníricos que continua a inspirar.

Abdellah El Atrach
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Nascido em 1972, perto de Essaouira, Abdellah El Atrach vive e trabalha em Hanchane, uma localidade na província de Essaouira. Após um breve período de escolaridade formal, trabalhou como marqueteiro, escultor e pasteleiro antes de se dedicar inteiramente à pintura. A sua arte está profundamente enraizada na cultura popular, inspirando-se frequentemente nas confrarias extáticas de transe, em particular os Aïssaoua. Este grupo místico realiza cerimónias rituais onde seguidores, homens e mulheres, entram em estados alterados de consciência, impulsionados pelo ritmo hipnótico dos tambores e oboés.

As pinturas de El Atrach retratam vividamente este estado de transe, representando frequentemente figuras de olhos arregalados como símbolo da sua transformação espiritual. Estas cenas são enriquecidas com seres fantásticos, símbolos mágicos e animais associados ao misticismo, como serpentes, escorpiões, lagartos e camaleões. Estes elementos funcionam também como intricados motivos ornamentais, acrescentando camadas de significado ao seu trabalho.

Pintor autodidata de Essaouira, El Atrach é considerado um dos principais representantes de uma forma de arte descrita como “Afro-Berbere” ou “tribal”. A sua abordagem caracteriza-se pela experimentação formal, incorporando designs gráficos ousados e cores vibrantes. As suas obras evocam frequentemente comparações com o período taitiano de Paul Gauguin, oferecendo uma iconografia igualmente evocativa e singular. No entanto, as referências africanas na sua arte emergem de forma orgânica, profundamente ligadas a experiências vividas, em vez de conceitos abstratos.

Abdelmalek Berhiss
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Nascido em 1971 numa aldeia perto de Essaouira, Abdelmalek Berhiss é um artista marroquino com raízes numa família trabalhadora. Começou a pintar desde muito jovem e juntou-se à prestigiada Galeria Damgaard com apenas 19 anos. Artista autodidata, Berhiss explorou diversos meios e técnicas, desde a pintura à escultura, desenvolvendo um estilo que estimula a imaginação.

As suas composições distinguem-se pelas linhas suaves e arredondadas, bem como pela repetição rítmica de gestos, refletindo uma criatividade ilimitada e musical. Este estilo singular inspira-se nas lendas ancestrais do artista e na rica herança cultural marroquina, entrelaçando essas influências em obras cativantes.

Berhiss expôs amplamente, tanto em Marrocos como a nível internacional. As suas obras foram apresentadas na Galeria de Arte Frédéric Damgaard (1990, 1992, 1995, 2004), na Bienal Internacional de Casablanca (2014, 2016) e na Bienal de Marraquexe (2016). Para além de Marrocos, a sua arte foi exibida na Alemanha (Museu de Wuppertal), na Suíça (Museu de Arte e Cultura da América), em Portugal e França.

Ali Maimoune
ali maimoune

Ali Maimoune, nascido em 1956 em Archague, Ouarzazate (Marrocos), iniciou a sua jornada criativa como pedreiro. A sua expressão artística manifestou-se inicialmente através da escultura em pedra e, mais tarde, na criação de representações zoomórficas e humanas a partir de raízes de cedro. Eventualmente, fez a transição para a pintura, onde o seu trabalho se inspira na vida quotidiana e incorpora figuras das mitologias africanas.

Maimoune é reconhecido pelo seu uso inovador de serradura colorida como meio artístico, uma técnica que confere às suas obras uma qualidade escultórica e rítmica. A sua arte oscila entre o agressivo e o hipnótico, com superfícies densamente preenchidas por cores vibrantes, desenhos intrincados e formas dinâmicas esculpidas em camadas de tinta de serradura deixadas a secar.

Azzedine Sanana
azzedine sanana

Azzedine Sanana, nascido em 1965, em Essaouira, Marrocos. Pescador desde a adolescência, passou grande parte da sua vida a trabalhar em pequenos barcos de madeira e embarcações maiores para pesca em alto-mar, frequentemente embarcando em viagens que duravam várias semanas.

Foi apenas aos quarenta anos que Sanana começou a pintar, descobrindo o seu talento como artista autodidata. A sua jornada na arte foi inspirada por um programa de televisão sobre pintura, que o levou a visitar a galeria de Frédéric Damgaard. Este encontro despertou a sua paixão pela criação artística, e rapidamente desenvolveu um estilo distinto. O seu trabalho caracteriza-se por figuras livres e dinâmicas que formam um bestiário surreal, fortemente inspirado no mundo marinho que conhece intimamente. A sua paleta vibrante, dominada por azuis, amarelos e verdes, reflete a sua profunda ligação ao mar.

Apesar de continuar a sua carreira como pescador, Sanana alcançou um reconhecimento significativo no mundo da arte. Gérard Sendrey, diretor artístico do Musée de la Création Franche em Bègles e especialista em arte marginal, reconheceu o talento de Sanana e convidou-o a expor o seu trabalho em França. Sanana apresentou cerca de trinta peças na galeria do museu, destacando-se como o único artista marroquino entre oito participantes de vários países.

Hamou Aït Tazarin
hamou ait tazarin

Hamou Aït Tazarin, nascido em 1969 na cidade de Agdz, situada na região de Zagora, em Marrocos, tornou-se uma voz distinta na arte contemporânea marroquina. Atualmente, reside e trabalha perto de Essaouira, tendo iniciado a sua jornada artística no início dos anos 1990. Antes de descobrir a sua paixão pela pintura, Hamou trabalhou como trabalhador agrícola sazonal. Talvez tenha sido a influência do seu irmão mais novo, Youssef Aït Tazarin, também pintor, que despertou a sua transformação criativa.

A arte de Hamou inspira-se profundamente na rica herança cultural e histórica da sua terra natal. Fascinado pelas abundantes gravuras rupestres espalhadas pela região de Zagora, ele reinventa esses antigos motivos nas suas obras. O seu processo criativo reflete uma ligação profunda aos criadores pré-históricos dessas gravuras, ao integrar os seus temas, técnicas e mitologias na sua própria arte.

As suas composições distintas combinam elementos de antigos frescos murais com a sua visão imaginativa. O resultado é um painel vibrante de criaturas fantásticas e figuras quiméricas que parecem simultaneamente intemporais e contemporâneas. Apesar das suas combinações surreais e sobreposições, estas formas mantêm-se imediatamente reconhecíveis. Hamou coloca estas personagens de outro mundo contra fundos brancos austeros, adornados com delicadas folhas verdes e pontos coloridos brilhantes. Estes pontos, uma marca distintiva do seu estilo, seguem os contornos dos seus desenhos, formando padrões geométricos intricados que dão vida às suas obras.

As pinturas de Hamou Aït Tazarin emanam vitalidade e mistério, servindo como uma ponte para um passado distante repleto de enigmas sobrenaturais. Desde a sua estreia em 1993, na sua cidade natal, Hamou tem exposto amplamente por todo o Marrocos. As suas criações fazem parte de várias coleções de arte prestigiadas, consolidando-o como uma figura essencial na cena artística contemporânea marroquina.

Mohamed Tabal
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Mohamed Tabal, nascido em 1959, em El Hanchane, Marrocos, é uma figura proeminente na cultura Gnaoua, um estilo musical marroquino associado a confrarias místicas muçulmanas. Foi um dos primeiros artistas a explorar o universo místico desta irmandade numa forma pictórica. Filho de um músico itinerante dos Ganges berberes — termo que se refere aos “filhos do sol e das estações” — Tabal foi iniciado desde jovem no culto urbano Gnaoua. O nome “Tabal”, que significa “tambor”, reflete a sua profunda ligação à música, instrumento que aprendeu a tocar na infância.

Seguindo os passos do pai, trabalhou como músico em Casablanca e arredores. No entanto, encorajado por Frédéric Damgaard, um galerista dinamarquês radicado em Essaouira, Tabal decidiu deixar a música para se dedicar inteiramente à pintura. A sua obra é uma pintura da memória — uma memória pessoal das suas viagens e da diáspora africana. As suas telas são habitadas por espíritos possessivos, ancestrais e figuras ligadas à escravatura. As danças rituais dos antigos africanos animam as suas composições, transformando a sua arte numa vibrante homenagem à cultura Gnaoua.

Ao longo da sua carreira, ganhou reconhecimento internacional, recebendo a Taça de Ouro no XXIII Concurso Internacional de Pintura Moderna Primitiva, na Suíça, em 1994, e o primeiro prémio no Festival Gnaoua de Essaouira, em 2012. Desde 1989, tem exposto regularmente em várias cidades internacionais, incluindo França, Bélgica (Museu Real de Belas Artes, 1997), Alemanha, Portugal (Pavilhão de Marrocos na Expo Mundial de Lisboa, 1998), Itália, Países Baixos, Espanha, Suíça, Dinamarca e Marrocos. Em Essaouira, expôs diversas vezes na Galeria Frédéric Damgaard (1989, 1990, 1993, 1994, 1997), bem como na Loft Gallery e na B&S Gallery, em Casablanca (2014 e 2018).

Mohamed Zouzaf
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Mohamed Zouzaf, nascido em 1955, em Essaouira, Marrocos, é um artista cuja obra segue as tradições do movimento de Essaouira, que visa preservar a memória popular ancestral e valorizar o artesanato e as artes tradicionais da região. Com delicadeza e mestria, Zouzaf explora um repertório misterioso de signos e símbolos, transpondo-os de forma ritualística e imutável ao longo dos anos, mantendo sempre uma forte ligação às suas raízes culturais.

A sua técnica única e meticulosa centra-se na utilização de peles montadas sobre madeira, o seu suporte de eleição. Zouzaf dá grande importância à materialidade das suas criações, traçando cuidadosamente uma série de elementos pictográficos com grande precisão. A sua obra apresenta uma estética envolvente, evidenciando a sua técnica refinada e a capacidade de evocar um simbolismo visual rico e profundo. Além disso, há espaço para a espontaneidade nos seus trabalhos, à medida que integra signos, símbolos e figuras geométricas de forma eclética, criando uma fusão de técnicas e padrões que resulta numa linguagem visual vibrante e instigante.

O trabalho de Mohamed Zouzaf é amplamente reconhecido pelo seu contributo significativo para a cena artística de Essaouira e além-fronteiras. A sua arte enriquece o panorama artístico marroquino, conquistando admiração tanto a nível nacional como internacional. A sua paixão pela arte e o seu desejo de preservar o património cultural fazem dele um artista de grande importância e influência, cuja obra continua a inspirar e a preservar a memória cultural da sua terra natal.

Mustapha Asmah
mustapha asmah

Mustapha Asmah é natural da cidade de Essaouira, na costa atlântica de Marrocos. O seu trabalho explora os limites da arte contemporânea em Essaouira, tratando a cidade tanto como uma paisagem simbólica como um meio para abordar temas recorrentes. Através das suas criações, procura redefinir a arte contemporânea, criando formas que transcendem a mera representação para oferecer uma nova identidade ao meio artístico.

Artista autodidata, Asmah aborda cada pintura com a intenção de libertar o espectador de noções pré-concebidas. As suas obras convidam a um olhar desprovido de filtros, incentivando uma sensibilidade aguçada que se demora na arte deste souiri nato. Dessa forma, inspiram uma ligação mais profunda e pessoal com o imaginário, incorporando uma identidade livre e sem limites.

As obras de Mustapha Asmah são frequentemente marcadas por formas simples e precisas, o que se tornou a sua assinatura distinta.

Mustapha El Haddar
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Nascido em 1964, no norte de Essaouira, Marrocos, Mustapha El Haddar é um artista autodidata cuja obra desfoca as fronteiras entre o artesanato e a expressão artística. Ainda a viver e a trabalhar na sua terra natal, El Haddar iniciou a sua jornada artística em 1998. O seu percurso como carpinteiro influencia significativamente o seu processo criativo, permitindo-lhe integrar técnicas artesanais na sua arte e forjar uma estética única e original.

O meio de eleição de El Haddar é o pergaminho feito de pele de cabra, meticulosamente esticado sobre painéis de madeira. Nesta tela pouco convencional, ele cria um universo onírico, povoado por símbolos inspirados na caligrafia árabe, animais fantásticos e criaturas híbridas. Estas formas retorcem-se e flutuam num estado etéreo e sem peso, dando origem a composições dinâmicas e sobrenaturais.

A mestria do artista no uso dos materiais é evidente na sua aplicação do “smah”, uma tinta tradicional marroquina historicamente utilizada em caligrafia e na escrita de manuscritos. Ao diluir esta tinta, El Haddar alcança uma rica gama de tons, desde o preto profundo ao castanho-claro delicado. Complementa esta base com guache, aplicado com um sentido intuitivo de harmonia, conferindo vivacidade e equilíbrio às suas obras.

A arte de El Haddar reflete uma profunda ligação às tradições ancestrais de Marrocos, seja através de uma nostalgia pelo passado ou de um esforço deliberado para preservar o património cultural. As suas criações vibram com alegria e imaginação, oferecendo um vislumbre dos seus mundos psicológicos e emocionais.

Ao longo dos anos, Mustapha El Haddar expôs amplamente, tanto em Marrocos como a nível internacional. As suas obras integram várias coleções prestigiadas, consolidando a sua reputação como um artista que une tradição e modernidade, convidando o público a explorar os reinos fantásticos da sua criatividade.

Rachid Amarhouch
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Rachid Amarhouch, nascido em 1966, na cidade costeira de Essaouira, Marrocos, é uma voz artística singular cuja obra reflete uma profunda ligação às suas raízes. Ainda a residir e a trabalhar na sua terra natal, Amarhouch iniciou a sua jornada criativa como jovem pescador. Durante esses primeiros anos, explorou a pintura como uma forma de expressão e, gradualmente, incorporou a caligrafia na sua arte. A sua natureza tímida e enigmática reflete-se na complexidade e originalidade das suas criações.

O estilo artístico de Amarhouch caracteriza-se por uma escrita fluida e espontânea, que combina a caligrafia cúfica com intrincados padrões geométricos e símbolos que evocam a beleza arquitetónica de Essaouira. A sua obra ultrapassa as fronteiras entre linguagem e imagem, resultando numa experiência visual surpreendente e única.

Nas suas composições imaginativas, caracteres árabes e latinos misturam-se com elementos surreais. Corpos com olhos no lugar da cabeça flutuam nas suas telas, acompanhados por seres zoomórficos e criaturas híbridas. Estes encontros fantásticos criam um mundo onírico onde humanos, animais, letras e símbolos coexistem em perfeita harmonia.

A escolha de temas e cores de Amarhouch inspira-se na rica iconografia das Montanhas do Atlas de Marrocos, transformando as suas pinturas em celebrações alegóricas da sua herança berbere. Simultaneamente, as influências da arte islâmica permeiam o seu trabalho, com elementos como designs labirínticos, arabescos, divisões espaciais intrincadas e pequenas figuras que se entrelaçam nas suas composições. Estas camadas de motivos decorativos e arquitetónicos criam uma paisagem visual hipnotizante e imersiva.

Através da sua obra, Rachid Amarhouch oferece uma interpretação moderna de formas tradicionais, criando um ambiente ótico inquietante, mas cativante, que deixa os espectadores intrigados e inspirados. A sua arte tem sido apresentada em várias exposições em Marrocos e no estrangeiro, consolidando-o como uma figura de destaque na arte contemporânea marroquina.

Said Ouarzaz
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Said Ouarzaz, nascido em 1965, em Essaouira, Marrocos. Agricultor por herança e pedreiro de profissão, Ouarzaz iniciou a sua jornada artística na escultura antes de evoluir para a pintura, onde encontrou a sua voz mais distinta.

A sua obra ecoa a tradição artística souiri, partilhando com os seus contemporâneos o uso de cores vibrantes, padrões rítmicos e figuras sobrepostas. As suas pinturas são povoadas por animais, plantas e personagens enigmáticas, todas entrelaçadas num jogo dinâmico de distorção e ocultação. As figuras surgem entrelaçadas e dispostas em camadas sob linhas cruzadas e tonalidades sobrepostas, parecendo escapar ao olhar direto do espectador e convidando a uma contemplação mais profunda. Os seus traços enérgicos, camadas turbulentas de cor e composições densamente preenchidas revelam uma sensação de urgência e emoção bruta.

Youssef Aït Tazarin
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Nascido em 1977, na província de Essaouira (Marrocos), vive e trabalha em Essaouira.

Youssef Aït Tazarin, um adolescente atípico e de temperamento reservado, começou a pintar aos catorze anos. Desde então, desenvolveu uma prática visual que explora temas pictóricos inspirados em universos fantásticos, expressos através de imagens surrealistas. Esta estranheza é intensificada por uma explosão de cor e um movimento sinóptico que evoca simbolismos intemporais.

As pinturas de Aït Tazarin invocam um reino animal povoado por criaturas híbridas, muitas vezes deformadas, que desafiam qualquer definição. As bestas ocupam toda a superfície da tela, sem deixar espaços vazios entre si. A contorcerem-se e a entrelaçarem-se nestes macrocosmos curiosos, estas representações arrastam as composições do artista para um turbilhão de movimento e tensão invulgar.

Para este artista de alma mística, os segredos da sua arte residem seguramente no inconsciente, onde a sua mente interior explora estados profundos de transe, sonhos lúcidos ou criativos, e uma linguagem inovadora que dá origem a criações capazes de encantar o espectador.

A sua técnica personalizada segue um protocolo tão complexo quanto intrigante. Utiliza uma forma única de pontilhismo, extremamente rigorosa, como um asceta — ou um maníaco — que projeta o seu espírito numa jornada ritualística de iniciação aparentemente interminável.

Youssef Aït Tazarin expõe o seu trabalho desde 1993, inicialmente na sua cidade natal e, mais tarde, por Marrocos. As suas obras integram coleções de renome internacional.

Amanda Jane Gabori & Dorothy Gabori
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Amanda Jane Gabori

Amanda Jane Gabori, nascida em 1966, na Ilha Mornington, é uma mulher Kaiadilt de Dulkawalne, Ilha Bentinck, e falante da língua Kayardild. É conhecida pelas suas pinturas vibrantes em tela e papel, criadas com tinta acrílica. As suas obras refletem a sua profunda ligação ao património cultural e ao ambiente natural da sua terra natal.

Como filha mais nova de Mirdidingkingathi Juwarnda Sally Gabori (c.1924–2015), uma das mais renomadas artistas contemporâneas da Austrália, Amanda cresceu num ambiente artístico. Inspirada pelos feitos extraordinários da mãe, começou a pintar desde cedo. Trabalha frequentemente em colaboração com a sua irmã, Dorothy Gabori, no Centro de Arte da Ilha Mornington, onde ambas continuam o legado da mãe, ao mesmo tempo que expressam as suas próprias visões artísticas.

Através da sua arte, Amanda celebra a sua ligação à Ilha Bentinck e à sua identidade cultural, contribuindo para a preservação e evolução das tradições Kaiadilt. As suas pinturas transmitem frequentemente um forte sentido de lugar, memória e narrativa, refletindo a rica história e paisagem das suas terras ancestrais.

Dorothy Gabori

Dorothy Gabori, nascida em 1959, é uma mulher Kaiadilt de Dulkawalne, Ilha Bentinck, e falante da língua Kayardild. Cria obras de arte vibrantes utilizando aguarela, tinta acrílica e lã de feltro colorida, inspirando-se na sua terra ancestral, a Ilha Bentinck, situada no Golfo de Carpentária, em Queensland.

Filha da célebre artista contemporânea Mirdidingkingathi Juwarnda Sally Gabori (c.1924–2015), Dorothy recebeu o primeiro incentivo para pintar da sua mãe. Muitas vezes, colabora com a sua irmã Amanda Gabori, dando continuidade ao legado artístico da mãe, ao mesmo tempo que imprime às suas obras perspetivas e estilos próprios.

As criações de Dorothy são uma celebração vívida do seu património cultural e da beleza natural da Ilha Bentinck. Ao utilizar materiais contemporâneos, envolve o público com histórias, paisagens e práticas culturais do povo Kaiadilt, promovendo uma compreensão mais profunda da sua história e tradições únicas.

Barbara Weir
barbara weir

Nascida em 1940, na estação Derry Downs, na região de Utopia, a nordeste de Alice Springs, Austrália, Barbara Weir é uma figura central na arte aborígene contemporânea. É filha de Minnie Pwerle, uma das mais célebres artistas aborígenes da Austrália, e de Jack Weir, um proprietário de terras irlandês. Criada no seio das ricas tradições artísticas de Utopia, a sua jornada até se tornar artista foi moldada por uma profunda perda e pela determinação em recuperar a sua herança cultural.

A infância de Barbara foi marcada pela separação e pelo desenraizamento. Com apenas dois anos de idade, foi retirada da sua família e escondida dos serviços de ação social devido à sua ascendência mista. Foi criada pela sua tia, a renomada Emily Kame Kngwarreye, que se tornaria uma das artistas aborígenes mais influentes da história. Aos nove anos, enquanto recolhia água na estação de Utopia, Barbara foi novamente afastada à força da sua família e colocada em vários orfanatos por toda a Austrália, onde lhe disseram que a sua mãe tinha falecido. Durante esses anos, foi proibida de falar a sua língua nativa e forçada a assimilar a cultura ocidental.

No final da década de 1960, Barbara reencontrou-se com a sua família em Utopia, embora a alegria da reunião tenha sido atenuada pela barreira linguística. Nos anos seguintes, dedicou-se a aprender as línguas Anmatyerre e Alyawarre, que acabou por dominar, permitindo-lhe reconectar-se com as suas raízes culturais. Durante esse período, teve mais três filhos e começou a explorar os seus talentos artísticos, nomeadamente através da pintura. A sua profunda ligação à terra, à sua herança e ao legado artístico da sua família tornou-se parte essencial da sua expressão criativa.

A sua jornada artística foi ainda influenciada pela estreita relação com a sua tia Emily, que já se destacava como artista de batik. Em 1994, Barbara e outras mulheres aborígenes de Utopia viajaram para a Indonésia para aprender a arte do batik, ampliando ainda mais os seus conhecimentos artísticos. Os batiks criados pelas mulheres de Utopia tornaram-se icónicos, contribuindo para a reivindicação da terra de Utopia pela comunidade aborígene em 1974, transformando-a num símbolo de empoderamento e orgulho cultural.

Clifford Possum Tjapaltjarri
clifford possum tjapaltjarri

Clifford Possum Tjapaltjarri, nascido em 1932, na estação Napperby, a cerca de 200 quilómetros a noroeste de Alice Springs (Mparntwe), foi um pioneiro da arte aborígene australiana e uma figura central no movimento artístico do Deserto Ocidental. A sua infância foi marcada pelas dificuldades enfrentadas pelo povo Anmatyerr, incluindo o deslocamento forçado após o Massacre de Coniston nos anos 1920. Criado profundamente enraizado nas tradições culturais, tornou-se fluente em seis línguas do Deserto Ocidental, incluindo a sua língua nativa, Anmatyerr.

Tjapaltjarri começou por trabalhar como vaqueiro e entalhador de madeira, aperfeiçoando as suas habilidades artísticas desde jovem. Em 1972, tornou-se um dos diretores fundadores da Papunya Tula Artists, uma cooperativa que desempenhou um papel crucial na introdução da arte do Deserto Ocidental no panorama artístico mundial. As suas primeiras obras destacaram-se pelos seus designs intrincados e multicamadas, bem como pela profundidade simbólica que capturava as narrativas espirituais do seu Tjukurrpa (Dreaming). A sua arte, caracterizada por uma pintura meticulosa de pontos e um simbolismo rico, funcionava frequentemente como mapas expansivos das suas terras ancestrais e histórias do Dreaming. Estas obras granjearam-lhe reconhecimento internacional e consolidaram-no como uma das vozes mais inovadoras da arte aborígene.

Durante a década de 1980, Tjapaltjarri foi presidente da Papunya Tula Artists, defendendo os direitos e a visibilidade dos artistas aborígenes. Em 1988, o Instituto de Arte Contemporânea de Londres organizou a sua retrospetiva, tornando-o no primeiro artista aborígene australiano a ter uma exposição individual neste prestigiado local. A sua influência estendeu-se globalmente, tornando-se um embaixador da arte e cultura aborígenes.

Em 2002, foi nomeado Oficial da Ordem da Austrália, em reconhecimento pelo seu contributo monumental para o mundo da arte e pelo seu papel na preservação e interpretação das tradições aborígenes.

George Hairbrush Tjungurrayi
george hairbrush tjungurrayi

Nascido no interior do território Pintupi, perto de Kiwirrkura, na Austrália Ocidental, por volta de 1943, George Tjungurrayi, carinhosamente apelidado de “Hairbrush” devido ao seu cabelo preto e espesso, é uma figura proeminente na arte aborígene australiana. A sua infância esteve profundamente ligada às tradições do povo Pintupi. Viveu da terra e deslocou-se por áreas como Mount Doreen e Yuendumu antes de se estabelecer em Papunya. Em 1962, juntou-se a Jeremy Long numa patrulha rumo ao oeste, marcando uma das suas primeiras interações com culturas exteriores.

George iniciou a sua carreira na pintura em 1975 com a Papunya Tula Artists, ao lado do seu irmão Willy Tjungurrayi, no West Camp, em Papunya. Com o tempo, o seu trabalho evoluiu dos estilos tradicionais Pintupi, enraizados na iconografia do Deserto Ocidental, para uma abordagem inovadora que reinterpretava estas tradições num contexto contemporâneo. As suas telas, frequentemente caracterizadas por listras óticas desenhadas à mão, afastam-se da tradicional pintura de pontos do deserto, criando um impacto visual dinâmico de movimento, sombra e profundidade. Estas composições estratificadas evocam uma ligação espiritual aos ancestrais Tingari e às suas jornadas pelas terras ancestrais de George.

A sua arte mantém uma forte ligação ao património cultural, refletindo histórias e locais importantes como Wala Wala, Kiwirrkura e Lake Mackay. As suas pinturas Tingari, que retratam as viagens e rituais dos ancestrais Tingari, representam simultaneamente tradição cultural e inovação artística. A qualidade ótica do seu trabalho, com semelhanças à arte abstrata, acrescenta uma dimensão contemporânea, mantendo-se, no entanto, profundamente enraizada nas paisagens espirituais da sua terra.

Atualmente, a abordagem única de George e a sua dedicação à preservação das narrativas culturais elevaram a sua obra a um estatuto de destaque. As suas pinturas, celebradas pela sua complexidade e qualidade etérea, servem de ponte entre a narrativa tradicional Pintupi e a expressão artística moderna, consolidando-o como um dos artistas aborígenes mais inovadores e respeitados da Austrália.

George Ward Tjungurrayi
george ward tjungurrayi

Nascido por volta de 1945, perto do local de Lararra, a sudeste de Kiwirrkurra, na Austrália Ocidental, George Ward Tjungurrayi é um renomado artista Pintupi cuja obra faz a ponte entre o tradicional e o contemporâneo. Juntamente com o seu irmão, Willy Tjungurrayi, George foi levado para Papunya no início dos anos 1960 por patrulhas do Território do Norte lideradas por Jeremy Long. Observando os artistas a trabalhar em Papunya, iniciou a sua jornada artística, inspirado pelas histórias Tingari – narrativas ancestrais de profundo significado cultural e espiritual para o povo Pintupi.

George começou a pintar para a Papunya Tula Artists em 1976, trabalhando no West Camp de Papunya e noutros locais, como Mt Liebig e Kintore. O seu estilo artístico evoluiu para reinterpretar a iconografia tradicional do Deserto Ocidental, criando obras caracterizadas por listras óticas lineares e padrões quadrados intrincados. Estes designs marcantes, enraizados nas histórias Tingari, rapidamente ganharam destaque, captando a atenção de colecionadores e galerias em todo o mundo. As suas pinturas são um testemunho da sua capacidade de traduzir jornadas ancestrais e práticas cerimoniais em formas de arte contemporâneas, mantendo sempre uma ligação profunda ao seu património cultural.

Após a morte do seu irmão, Yala Yala Gibbs, George assumiu um papel ainda mais relevante como guardião sénior da lei e das tradições Pintupi. Esta mudança marcou uma profunda evolução na sua arte, com as suas telas a exalar solenidade e profundidade intelectual. Os seus trabalhos mais recentes, frequentemente multicamadas e abstratos, refletem as paisagens espirituais e as jornadas ancestrais dos Tingari. Estas pinturas, únicas na sua composição e intensidade, são consideradas obras-primas que ampliam os limites do movimento artístico do deserto.

O seu trabalho vai além da conquista estética; representa um arquivo vivo da cultura e da narrativa Pintupi. Através do seu estilo ousado e inovador, George assegura a relevância contínua das histórias Tingari, consolidando o seu lugar como um dos artistas mais importantes do movimento do Deserto Ocidental.

Gloria Petyarre
gloria petyarre

Gloria Tamerre Petyarre, nascida em 1942, em Mosquito Bore, Utopia, no Território do Norte, foi uma das artistas aborígenes australianas mais proeminentes, reconhecida internacionalmente pelas suas contribuições para a arte contemporânea.
Membro do povo Anmatyerre, Gloria iniciou a sua carreira artística na década de 1970, participando num projeto de batique promovido pela Central Australian Aboriginal Media Association (CAAMA), que visava preservar e promover as tradições culturais aborígenes através da arte têxtil.

Nos anos 1980, fez a transição para a pintura em tela, desenvolvendo um estilo distintivo, caracterizado por padrões intrincados e repetitivos que evocam elementos da natureza e narrativas do Dreamtime, a cosmogonia aborígene.

Em 1999, Gloria Petyarre alcançou um marco significativo na sua carreira ao vencer o Prémio Wynne, atribuído pela Art Gallery of New South Wales, tornando-se a primeira artista aborígene a receber esta distinção. As suas obras integram coleções prestigiadas, como a da National Gallery of Australia e do Museum of Victoria, destacando a sua importância no panorama artístico nacional e internacional.

Gloria Petyarre faleceu em 2021, deixando um legado duradouro que continua a influenciar e a inspirar novas gerações de artistas. A sua arte permanece uma celebração vibrante da cultura aborígene australiana, atuando como uma ponte entre as tradições ancestrais e a expressão artística contemporânea.

Jimmy Yanyatjari Donegan
jimmy yanyatjari donegan

Nascido por volta de 1940, em Yanpan, uma reserva de água perto de Ngatuntjarra Bore, na Austrália Ocidental, Jimmy Donegan cresceu imerso nas ricas tradições das terras Pitjantjatjara. Criado como um “bebé do mato”, passou a infância a deslocar-se pelas paisagens de Blackstone e Mantamaru (Jamieson), desenvolvendo uma profunda ligação à terra. Com laços familiares que se estendiam por toda a região, Jimmy mais tarde estabeleceu-se em Blackstone com a sua esposa e filhos, atraído pela sua conexão duradoura com o território. Após ficar viúvo, regressou à Comunidade de Kalka para estar mais próximo dos filhos e da sua irmã, Molly Nampitjin Miller, uma das diretoras fundadoras da Ninuku Arts.

Jimmy é conhecido pelas suas excecionais habilidades como artesão, criando lanças, propulsores de lanças e bumerangues, que são altamente valorizados pelo seu trabalho artesanal e significado cultural. Para além da sua arte, Jimmy é um respeitado guardião da lei e cultura Pitjantjatjara, estando profundamente envolvido em cerimónias tradicionais e na transmissão de histórias ancestrais. A sua capacidade de expressar as narrativas e a essência espiritual do seu património tornou-o uma figura reverenciada dentro da sua comunidade.

Em 2010, Jimmy alcançou reconhecimento nacional ao vencer o prestigiado Telstra National Aboriginal and Torres Strait Islander Art Award. A sua obra, que conquistou tanto a categoria de Pintura Geral como o prémio principal, destaca-se pelas composições vibrantes de pontos ondulantes e intensamente coloridos, frequentemente atravessados por linhas que representam o percurso das cobras ancestrais que se movem acima e abaixo da terra. Estas criações são simultaneamente visualmente cativantes e profundamente simbólicas, incorporando as narrativas espirituais do seu povo.

As contribuições de Jimmy Donegan para o património artístico e cultural das terras Pitjantjatjara são profundas. As suas deslumbrantes obras de arte e artesanato servem como uma ponte entre as antigas tradições dos seus antepassados e a arte contemporânea, garantindo que as histórias, leis e espírito da sua cultura permaneçam vivos e vibrantes.

John West Tjupurrula
john west tjupurrula

John West Tjupurrula, nascido em 1982, em Kintore, na Austrália Ocidental, é um artista Pintupi emergente e um membro orgulhoso da Papunya Tula Artists, um coletivo reconhecido pelas suas contribuições significativas para o movimento da arte aborígene contemporânea. É filho dos conceituados pintores da Papunya Tula, Freddy West Tjakamarra e Payu Napaltjarri, e meio-irmão dos respeitados artistas Bobby West Tjupurrula e Kim Napurrula.

A ligação de John à sua herança cultural e à sua terra é o elemento central da sua arte. Há alguns anos, fez a sua primeira viagem de helicóptero, uma experiência que influenciou profundamente a sua perspetiva criativa. “Ver o meu país de cima mudou o meu estilo, e agora pinto o meu país dessa forma”, explica. Utilizando fotografias e imagens de drone como referência, capta a beleza aérea de locais significativos como Palipalintja e Winpulpula, locais associados ao sagrado Ciclo de Canções Tingari. As suas obras refletem as texturas, cores e ressonância espiritual da paisagem, apresentando campos de cor manchados que traçam as jornadas dos homens Tingari. Escolhe cuidadosamente as cores para evocar o estado de espírito e o caráter da paisagem, garantindo que as suas pinturas sejam simultaneamente culturalmente significativas e visualmente cativantes.

John está profundamente comprometido com a sua comunidade. A viver em Kiwirrkurra, trabalha como ranger, desempenhando funções em projetos de gestão ambiental, como a erradicação de animais invasores e a conservação do meio ambiente local. Além disso, ensina ciência bidirecional na escola local, promovendo um equilíbrio entre o conhecimento ecológico tradicional e abordagens científicas modernas.

Recentemente, a ascensão de John no mundo da arte foi reconhecida quando foi finalista do prestigiado Prémio Wynne, um testemunho do seu talento e dedicação à documentação e celebração da cultura Pintupi através da arte.

Como parte da Papunya Tula Artists, uma cooperativa inteiramente detida e dirigida por povos aborígenes do Deserto Ocidental, John contribui para um legado artístico rico. O estilo distintivo deste coletivo, derivado das pinturas tradicionais corporais e de areia usadas em cerimónias, conquistou aclamação internacional e um lugar de destaque em galerias e instituições de prestígio em todo o mundo.

Josie Kunoth Petyarre
josie kunoth petyarre

Josie Kunoth Petyarre, nascida em 1959, em Utopia, vem de uma linhagem de talentosos artistas, incluindo a sua mãe, a renomada Polly Ngale, bem como as suas irmãs e tias, todas figuras respeitadas no movimento artístico de Utopia. Casada com Dinny Kunoth Kemarre, Josie e o marido partilham uma família profundamente envolvida nas tradições artísticas, incluindo os seus seis filhos, como Doreen e Malanda Kunoth. A sua jornada artística começou na década de 1980, no movimento de batique que consolidou as mulheres artistas de Utopia, e em 2005 fez a transição para a pintura na Mbantua Gallery, criando representações vibrantes das histórias do Dreamtime e da vida na sua comunidade.

Tal como o marido e os filhos, Josie também esculpe figuras em madeira que retratam elementos da vida no deserto, incluindo animais selvagens e figuras cerimoniais. Em 2006, Josie e Dinny criaram esculturas pintadas de jogadores da Australian Football League (AFL) de cada equipa, um projeto que resultou numa exposição na AFL World, em Melbourne, em 2007. O casal participou na exposição e na grande final da AFL desse ano, experiência que inspirou Josie a criar uma pintura realista refletindo a sua visita a Melbourne. Esta obra foi posteriormente adquirida pelo National Museum of Australia, evidenciando a sua capacidade de incorporar experiências pessoais na sua narrativa artística.

A arte de Josie está profundamente enraizada na sua herança cultural e nas suas vivências, combinando histórias tradicionais do Dreamtime, transmitidas a partir da terra do seu pai, Alhalkere, com representações coloridas da vida em Utopia. Anos a observar a sua mãe e outras artistas de Utopia moldaram o seu estilo e inspiraram a sua paixão pela arte como meio de expressão cultural e narrativa. Embora fale pouco inglês, o entusiasmo de Josie pela arte transcende barreiras linguísticas, conectando as suas histórias e o seu património a um público mais vasto.

Josie viajou por toda a Austrália, apresentando o seu trabalho em cidades como Perth, Melbourne e Darwin, mas continua a residir em Utopia com o marido, os filhos e a família alargada. Através das suas pinturas, esculturas e dedicação inabalável à sua comunidade, Josie Kunoth Petyarre personifica o espírito duradouro das tradições artísticas de Utopia, ao mesmo tempo que contribui com a sua voz única para o mundo da arte aborígene contemporânea.

Lennard Walker
lennard walker

Lennard Walker, nascido por volta de 1946, em Tjukaltjara, na região de Spinifex, no centro da Austrália, é um renomado artista aborígene cuja obra reflete profundamente as paisagens, histórias e espiritualidade do seu povo. Tjukaltjara, parte do vasto local cultural das Sete Irmãs, situado em torno de Kuru Ala, desempenha um papel crucial nas cerimónias femininas e nas narrativas ancestrais do clã de Lennard.

Lennard cresceu numa região onde as dunas de Spinifex se encontram com as cadeias de ferro, um ambiente árido, mas majestoso, que se reflete diretamente nas suas pinturas. Embora tenha nascido no interior, a sua infância foi marcada por uma mudança para a Missão de Warburton, onde aprendeu inglês—uma competência que se revelou essencial durante a transição para o autogoverno aborígene. No entanto, a sua família teve dificuldades em adaptar-se a Warburton e acabou por mudar-se para a Missão de Cundeelee, juntando-se a outras famílias de Spinifex.

A sua prática artística ganhou força com a criação coletiva da primeira pintura de título nativo masculino, na qual colaborou com outros homens e, ocasionalmente, com a sua esposa. Estas obras celebram a profunda ligação à terra, preservando histórias ancestrais e transmitindo um forte sentido de identidade cultural.

O estilo de Lennard Walker caracteriza-se por uma profunda fidelidade às formas e cores da sua terra ancestral, capturando a essência espiritual da paisagem de Spinifex.

Mariene Burton
mariene burton

Mariene Burton, nascida em 1966, em Jigalong, na Austrália Ocidental, é uma artista aborígene da etnia Manyjilyjarra. Filha do renomado artista Martu Pukina Burton, aprendeu a pintar observando o seu pai. Atualmente, reside na Comunidade de Punmu, onde retrata as paisagens locais e os recursos hídricos, inspirando-se nas cores do nascer e do pôr do sol.

Mariene descreve a pintura como uma fonte de bem-estar e partilha esta paixão com os seus netos, garantindo a continuidade das tradições culturais e artísticas da sua família. Para além de explorar as paisagens e os recursos naturais da região de Punmu, utiliza a sua arte para preservar as histórias ancestrais e as memórias do seu povo.

As suas pinturas, caracterizadas por uma paleta de cores suaves e uma abordagem intimista, captam a beleza e a espiritualidade do deserto australiano. Mariene combina habilidade técnica com uma profunda ligação emocional à terra, criando obras que não só refletem a sua identidade cultural, mas também dialogam com temas universais, como a relação entre o ser humano e o meio ambiente.

Minnie Pwerle
minnie pwerle

Minnie Pwerle, nascida no início da década de 1920, na região de Utopia, no Território do Norte, Austrália. Criada numa família numerosa, tinha cinco irmãs – Margie, Molly, Emily, Lois e Galya – e dois irmãos. Casou com ‘Motorcar’ Jim, irmão da falecida Glory Ngarla, e teve seis filhos: Eileen, Betty, June, Raymond e duas filhas que tragicamente faleceram ainda jovens. Minnie foi também mãe de Barbara Weir, fruto da sua relação com Jack Weir, um proprietário de terras irlandês. Devido às políticas de assimilação da Austrália, Barbara foi retirada de Minnie aos oito anos, mas reencontrou-se com a mãe no final dos anos 1960, tornando-se mais tarde uma artista aborígene reconhecida internacionalmente.

Embora Minnie tenha praticado arte tradicional ao longo da sua vida, foi apenas no final da década de 1990, já na casa dos 70 anos, que começou a pintar em tela. Durante uma visita à sua filha Barbara, em Adelaide, Minnie manifestou o desejo de pintar, dando início à sua carreira artística na DACOU Gallery, gerida pelo seu neto Fred Torres. As suas primeiras obras, caracterizadas por uma ousadia vibrante e gestos fluidos, rapidamente chamaram a atenção de colecionadores e comerciantes de arte.

Apesar de nunca ter recebido formação artística formal ou contacto com a arte europeia, Minnie desenvolveu um estilo único que combinava modernidade e tradição. Manteve-se ativa e prolífica até à sua morte, em 2006, aos 90 anos, vivendo perto da loja de Arlparra, em Utopia, e continuando a pintar até ao fim da sua vida.

Minnie Pwerle é lembrada como uma das maiores artistas aborígenes da Austrália, cujas pinturas ecoam a sabedoria ancestral e o espírito contemporâneo da sua terra natal.

Mitjili Napanangka
mitjili napanangka

Mitjili Napanangka, nascida por volta de 1930, em Winparrku, perto de Papunya, no Deserto de Gibson, foi uma artista aborígene do povo Pintupi, fluente nas línguas Warlpiri e Pintupi. A sua terra ancestral situava-se em Wilkinkarra (Lago Mackay), uma região rica em tradições culturais e histórias do Jukurrpa (Dreamtime), que moldaram tanto a sua vida como a sua arte.

Inspirada pela sua sobrinha, a renomada artista Dorothy Napangardi, Mitjili começou a pintar em 2005, alcançando rapidamente o sucesso. O seu trabalho é marcado por narrativas mitológicas relacionadas com a criação e com locais sagrados da sua terra natal, como Mina Mina, um lugar espiritualmente significativo para as mulheres com os nomes de pele Napanangka e Napangardi. Mitjili retratava estas histórias numa perspetiva aérea, utilizando pontos coloridos e linhas sinuosas para criar composições que evocavam a textura e a dinâmica da paisagem do deserto. As suas obras, tanto como expressão artística como manifestação cultural, carregavam a essência da lei aborígene, transmitindo a magia do amor e os mitos dos Tingari.

Embora as narrativas das suas pinturas pudessem variar consoante a sua visão, dois temas principais prevaleciam: as memórias da infância, vivida com familiares próximos, e as paisagens entrelaçadas com as perceções tradicionais da criação. Mitjili orgulhava-se de preservar e partilhar as histórias do seu povo, revitalizando as tradições e a sabedoria dos seus antepassados através da sua arte. Para além do seu contributo artístico, era uma excelente conhecedora da terra, colaborando em pesquisas ecológicas no deserto e participando em produções cinematográficas, como o filme Samson and Delilah (2009), onde interpretou o papel da avó de Delilah.

Mitjili faleceu em 2010, mantendo sempre um aguçado sentido de humor e uma profunda ligação à sua terra e cultura.

Muluymuluy Wirrpanda
wirrpanda yunupinju marawili

Muluymuluy Wirrpanda, nasceu em 1959, em Arnhem Land, Austrália. É filha de Molulmi e foi a esposa mais jovem de Wakuthi Marawili, um dos anciãos da região.

Trabalhou ao lado dos seus cunhados e foi orientada por Wakuthi na criação de pinturas que celebram e documentam as ricas tradições e histórias do clã Madarrpa. A sua obra reflete a sua profunda ligação à terra e à cultura, sendo reconhecida como parte de um importante movimento na arte contemporânea indígena australiana. A sua irmã, Mulkun Wirrpanda, é também uma artista renomada e uma líder dentro da comunidade Yolŋu, ampliando ainda mais o legado artístico da família.

Ŋulwurr Yunupingu
wirrpanda yunupinju marawili

Ŋulwurr Yunupingu, nascido em 1967, em Biranybirany, uma comunidade remota em Caledon Bay, no Território do Norte da Austrália, cresceu imerso na cultura e tradições do povo Yolŋu, pertencendo à moiety Yirritja e aos clãs Gumatj e Rrakpala. Afastado das influências modernas, vive num ambiente onde a eletricidade e a televisão são praticamente inexistentes, mantendo uma ligação profunda com a terra e os costumes dos seus antepassados.

Ao longo dos anos, Ŋulwurr consolidou-se como uma figura de autoridade tanto no campo artístico como espiritual. O seu trabalho artístico baseia-se na tradição da pintura em casca de árvore e em esculturas de madeira, conhecidas como Larrakitj, que desempenham um papel cerimonial e simbólico na cultura Yolŋu. As suas criações expressam narrativas ancestrais, padrões sagrados e histórias que refletem a identidade do seu povo.

As suas obras ganharam reconhecimento ao longo dos anos, sendo apresentadas em diversas exposições. Em 2002, participou na exposição Gumatj Poles na Framed Gallery, em Darwin. No ano seguinte, as suas peças foram exibidas no Festival Internacional de Arte de Brighton, no Reino Unido, e na Rebecca Hossack Gallery. Ainda em 2003, integrou a instalação Garma Larrakitj no Festival Garma, em Gulkula, um evento que celebra a cultura Yolŋu. Em 2004, as suas criações fizeram parte da exposição Circle, Line, Column na Annandale Galleries, em Sydney.

Polly Kngale
polly kngale

Polly Ngale, nascida em 1940, foi uma das mais importantes artistas aborígenes da Austrália, membro do povo Anmatyerre e guardiã das terras de Alparra, situadas em Utopia, no Território do Norte. Reconhecida pela sua mestria na pintura contemporânea e pela sua profunda ligação à cultura ancestral e às terras do seu povo, Polly dedicou a sua carreira à representação da Bush Plum (Arnwetky), uma planta nativa de grande importância cultural e espiritual para os Anmatyerre.

A sua jornada artística começou no final da década de 1970, quando iniciou trabalhos em batique de seda, explorando padrões complexos e um uso expressivo da cor. Mais tarde, fez a transição para a pintura acrílica sobre tela, onde alcançou reconhecimento internacional. As suas obras distinguem-se por um estilo único, com camadas de pontos meticulosamente aplicados, criando uma profundidade visual que evoca a transformação da paisagem de Utopia ao longo das estações do ano. A sua paleta de cores vibrantes reflete as variações sazonais e a fertilidade da terra, sendo a Bush Plum um elemento central, tanto como fonte de alimento e remédio, como parte essencial das cerimónias espirituais Anmatyerre.

Nos últimos anos da sua vida, Polly continuou a produzir obras visualmente impactantes, consideradas algumas das melhores da sua carreira. Polly faleceu a 21 de agosto de 2022, deixando um legado artístico e cultural que preserva as tradições e a beleza espiritual do seu povo.

Ray James Tjangala
ray james tjangala

Ray James Tjangala, nascido por volta de 1955, na reserva de água Yunala, a oeste de Kiwirrkurra, na Austrália Ocidental, é filho de Anatjari Tjampitjinpa e Tjungkaya Napangati.

Ray iniciou a sua carreira artística com a Papunya Tula Artists no final da década de 1980, enquanto vivia em Walungurra (Kintore). No final dos anos 1990, regressou a Kiwirrkurra, a sua terra ancestral, marcando uma mudança significativa na sua prática artística. Esta transição, aliada ao falecimento de muitos artistas seniores, consolidou a reputação de Ray como um dos mais proeminentes e reconhecidos artistas da Papunya Tula.

No centro da sua arte está o ciclo do Tingari Tjukurrpa, uma narrativa sagrada do povo Pintupi. Este extenso ciclo descreve as jornadas dos anciãos Tingari pelo Deserto Ocidental, onde estabeleceram locais sagrados, realizaram cerimónias de iniciação e transmitiram conhecimentos essenciais sobre leis, rituais e técnicas de sobrevivência às comunidades locais. O Dreaming Tingari tem uma enorme importância cultural e espiritual, sendo representado por artistas de várias regiões, que ilustram aspetos das viagens dos anciãos ou cerimónias associadas a este ciclo sagrado.

As pinturas de Ray são celebradas pelos seus intrincados designs geométricos e linhas oscilantes, geralmente criadas numa paleta quase monocromática. Estas obras narram os rituais e cerimónias associadas aos anciãos Tingari no local de Yunala, a oeste de Kiwirrkurra. Os padrões e cores refletem as características topográficas da região, como as dunas de areia e as redes subterrâneas de raízes da banana do mato, bem como o uso cerimonial de ocres naturais.

Através da sua arte, Ray James Tjangala estabelece uma ponte entre as tradições ancestrais do povo Pintupi e a expressão contemporânea, tornando a sua obra tanto um testemunho cultural como um símbolo da arte indígena moderna.

Ronnie Tjampitjinpa
ronnie tjampitjinpa

Ronnie Tjampitjinpa, nasceu por volta de 1943, em Tjiturrunya, a cerca de 100 quilómetros a oeste das Kintore Ranges, na Austrália Ocidental. Durante a grave seca dos anos 1950, a sua família mudou-se para Haasts Bluff e, mais tarde, para Papunya, onde Ronnie passou os seus anos de formação. Tornou-se um dos primeiros homens Pintupi a utilizar a arte como meio de preservação cultural, participando nas fases iniciais do movimento artístico do Deserto Ocidental. A sua jornada artística começou com a sua primeira exposição em 1974, e realizou a sua primeira exposição individual em 1989. Nos anos 1980, regressou às suas terras ancestrais, estabelecendo-se em Kintore pouco depois da sua fundação—um sonho que há muito desejava concretizar.

Reconhecido pelo seu estilo distinto, Ronnie utiliza formas geométricas simples e linhas marcantes para explorar temas culturais profundos. O seu trabalho representa frequentemente elementos do Water Dreaming (Sonho da Água), Bushfire Dreaming (Sonho do Incêndio Florestal) e o ciclo Tingari. As histórias Tingari centram-se em seres ancestrais que percorreram o deserto, realizando rituais, transmitindo leis, moldando a paisagem e criando locais cerimoniais. As pinturas Tingari possuem significados complexos e multicamadas, muitos dos quais permanecem sagrados e inacessíveis aos não-iniciados.

Sally Gabori
sally gabori

Sally Gabori, nascida Mirdidingkingathi Juwarnda na Ilha Bentinck, Austrália, foi uma aclamada artista aborígene, conhecida pelas suas pinturas abstratas vibrantes e expressivas. A sua obra transcendeu a arte aborígene tradicional, enfatizando memórias pessoais e culturais em vez da narrativa mitológica. Cada pintura traduzia a sua profunda ligação a locais de importância pessoal na Ilha Bentinck, onde os lugares eram representados através de cores ousadas e formas expressivas, captando a ressonância emocional e cultural da sua vida e herança.

A infância de Gabori foi vivida imersa nos costumes e na cosmologia do povo Kaiadilt, seguindo um modo de vida exclusivamente indígena baseado na caça e na recoleção. Em 1948, colonos europeus forçaram a remoção de toda a população Kaiadilt para uma missão na Ilha Mornington, interrompendo a sua ligação à terra ancestral. Apesar desse deslocamento, Gabori manteve uma profunda conexão com o seu território, que se tornou a base da sua prática artística.

Embora ao longo da vida tenha demonstrado talento na tecelagem, Gabori só começou a pintar em 2005, aos 81 anos. A sua ascensão artística foi rápida, conquistando aclamação generalizada, com as suas obras elogiadas pela profundidade emocional e abordagem inovadora à arte aborígene. Ao contrário de muitos pintores aborígenes que se concentram na narrativa mitológica, a arte de Gabori articulava as sensações da memória cultural e da identidade na diáspora. O seu legado permanece como um testemunho da sua visão única e do poder duradouro do lugar e da memória na cultura aborígene.

Thunduyingathi Bijarrb May Moodoonuthi
thunduyingathi bijarrb may moodoonuthi

Thunduyingathi Bijarrb May Moodoonuthi, também conhecida como May Moodoonuthi, foi uma artista aborígene da Ilha Bentinck, Austrália, celebrada pelas suas pinturas vibrantes e evocativas. A sua obra, fortemente enraizada nas histórias e na cultura do povo Kaiadilt, traduz uma conexão profunda com a sua terra natal e tradições ancestrais.

Moodoonuthi nasceu em 1929 na Ilha Bentinck e viveu uma infância imersa nos costumes tradicionais do seu povo. Em 1948, com a deslocação forçada dos Kaiadilt para a Ilha Mornington, viu a sua ligação à terra ser abruptamente interrompida. No entanto, essa separação apenas reforçou a importância da memória e da identidade cultural na sua vida e prática artística.

Começou a pintar em 2005, aos 76 anos, integrando o centro de arte de Mornington Island. As suas obras destacam-se pela paleta de cores intensa e pelas formas expressivas que evocam lugares, histórias e o espírito resiliente do seu povo. A prática artística de Moodoonuthi vai além da narrativa tradicional, expressando emoções e memórias pessoais que ecoam a experiência coletiva da diáspora Kaiadilt.

O seu legado é celebrado não apenas pela beleza estética das suas obras, mas também pela força com que afirmam a continuidade cultural e a resistência do seu povo.

Wawiriya Kunmara Burton
wawiriya kunmara burton

Wawiriya Burton foi uma anciã e Ngangkari (curandeira tradicional) respeitada da comunidade de Amata, no sul da Austrália. A sua jornada artística começou em 2008, na Tjala Arts, depois de anos a especializar-se na produção de cestos e punu (esculturas em madeira). Como líder cultural reconhecida, Wawiriya dedicou-se profundamente à preservação e transmissão do conhecimento tradicional, que expressava de forma vívida através das suas pinturas. As suas obras captavam as histórias da terra do seu pai, perto de Pipalyatjara, a oeste de Amata, demonstrando uma ligação profunda ao território e às suas narrativas ancestrais.

O talento natural de Wawiriya foi imediatamente reconhecido no mundo da arte. As suas pinturas vibrantes e expressivas levaram-na a ser finalista sete vezes nos National Indigenous Art Awards, no Museum and Art Gallery of the Northern Territory. Além disso, a sua obra foi destacada em quatro edições do prestigiado Prémio Wynne, na Art Gallery of New South Wales. Em 2018, foi distinguida com o Roberts Family Prize, no Prémio Wynne, consolidando ainda mais a sua posição como uma das vozes mais influentes na arte indígena contemporânea.

Atualmente, as obras de Wawiriya integram diversas coleções institucionais, tanto a nível nacional como internacional, refletindo o seu legado artístico. Através da sua pintura, não só partilhou a beleza e as histórias da sua terra ancestral, como também reforçou o seu papel como guardiã da cultura, garantindo a continuidade e vitalidade das suas tradições para as futuras gerações.

Yalmakany Marawili
wirrpanda yunupinju marawili

Nascida em 1957, Yalmakany Marawili é uma distinta artista Yolŋu, reconhecida pelo seu trabalho prolífico em pintura sobre casca de árvore e na escultura de troncos ocos (larrakitj). O seu legado artístico está profundamente enraizado na herança familiar, sendo filha da renomada artista Mrs. M Wirrpanda e irmã do líder comunitário Djambawa Marawili e de Gurrundul Marawili. Yalmakany é casada com Waninya Marika OAM e divide a sua vida entre Yilpara e Yirrkala, no nordeste de Arnhem Land.

A arte de Yalmakany reflete a sua ligação ao território de Baraltja, um tema central no seu trabalho. Através de representações meticulosas sobre casca de árvore e larrakitj, retrata as narrativas sagradas e as paisagens da sua terra ancestral, preservando as histórias e a espiritualidade do seu povo. A sua obra constitui simultaneamente uma forma de expressão pessoal e de preservação cultural, garantindo a continuidade da lei e da tradição Yolŋu.

Desde 1998, as suas obras foram apresentadas em diversas exposições coletivas de prestígio, tendo conquistado reconhecimento em importantes galerias de arte por toda a Austrália. Em 2009, a sua arte foi celebrada numa exposição individual nas Annandale Galleries, em Sydney, destacando a sua significativa contribuição para a arte indígena contemporânea.

As obras de Yalmakany Marawili continuam a ressoar profundamente, estabelecendo uma ponte entre o seu património ancestral e um público mais vasto. O seu compromisso com a cultura e o seu talento artístico excecional consolidaram-na como uma figura essencial na preservação e celebração da arte e identidade Yolŋu.

Palácio Duques de Cadaval

Horário
Terça a Domingo
9h00 às 13h00 / 14h00 às 18h00

Rua Augusto Filipe Simões
7000-845 Évora - Portugal


palaciocadaval@gmail.com
info@palaciocadaval.com
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→ Mais informações sobre o Palácio dos Duques de Cadaval
Exposição + Igreja
→ Bilhete Adulto: 10€
→ Bilhete Reduzido (Jovens até aos 25 anos/Séniores +65): 8€
→ Bilhete Residente de Évora: 8€
Organização
Palácio dos Duques de Cadaval
Casa Cadaval - Associação Festival Évora Clássica
Conceito e co-criação
Ben Jakober
Yannick Vu
Museu de Sa Bassa Blanca | Fundación Yannick and Ben Jakober
Casa Cadaval - Associação Festival Évora Clássica
Curador
Enrique Juncosa
Cenografia
Cyrille Martin
Produção
Alexandra de Cadaval
Adriana Moreno
Assistente de produção
Joana Filipa Figueira Saial
Maria João Tavares dos Santos
Comunicação e Assessoria de imprensa
O Apartamento
Conceito e Coordenação editorial
Ben Jakober
Yannick Vu
Enrique Juncosa
Alexandra de Cadaval
Cátia Fernandes - Bardo Creative Ground
Traduções
Chris Mingay
Joana Filipa Figueira Saial
Maria João Tavares dos Santos
Textos biografias
Joana Filipa Figueira Saial
Maria João Tavares dos Santos
Fotografia
Macià Puiggròs Noguera
Design Gráfico
Joana Areal
Web Design
Sara Orsi
Agradecimentos
Duquesa de Cadaval
Fundación Yannick y Ben Jakober
BPI / Fundação La Caixa
Fondation Jardin Majorelle
Madison Cox
Suzy Davis
Turismo de Portugal
Entidade Regional do Alentejo e Ribatejo
CCDR Alentejo I.P
Câmara Municipal de Évora
Embaixada do Reino de Marrocos em Portugal
Turismo de Marrocos
Embaixada de Portugal em Rabat
Embaixada da Austrália em Portugal
AISSE
Evento de inauguraçâo
Casa Cadaval - Associação Festival Évora Clássica
Embaixada do Reino de Marrocos em Portugal
Carlos Pissarra
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